Sobre o projecto

Cidade e Espectáculo: uma visão da Lisboa pré-terramoto

1. Conceito

Este projeto consiste numa recriação virtual, a partir da tecnologia Second Life, da memória de Lisboa na véspera do terramoto de 1 de Novembro de 1755, dando forma a um modelo de laboratório da história da cidade.

2. Parceiros

O projeto foi desenvolvido por uma equipa do Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA), da Universidade de Évora, e a empresa Beta Technologies (Architects of the Virtual World).

3. Contexto Histórico

Nas vésperas da catástrofe, Lisboa era uma das cidades mais populosas da Europa, importante porto marítimo, entreposto do comércio internacional e centro político de um império que se estendia da Índia ao Brasil. A partir do século XVI, a capital portuguesa acentuou a sua dimensão cosmopolita, apresentando um quadro demográfico e social bastante diversificado.

Retratada por alguns viajantes estrangeiros como um misto de extrema miséria, devoção religiosa e desmedida opulência, a velha Lisboa converteu-se numa cidade mítica para os Europeus de Setecentos e para os Portugueses, desde então até à atualidade. A sua destruição foi primeira página dos jornais europeus da época, durante largos meses, e inspirou vários textos de carácter diverso, nomeadamente Candide ou l’Optimisme de Voltaire (1759), tendo tido um impacto significativo no pensamento Europeu Setecentista.

Após o terramoto, o futuro Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I, construiu uma cidade de traçado regular e quarteirões uniformes, com a intervenção fundamental dos engenheiros militares portugueses. O antigo centro da cidade, com o seu carácter morfológico e social particular, desapareceu.

4. Metodologia e Potencialidades

A partir de um levantamento e selecção de fontes escritas, iconográficas e cartográficas existentes nos acervos nacionais, o projeto teve como objetivo a recriação da área sobre a qual incidiu o plano de reconstrução de Lisboa, incluindo os interiores de alguns edifícios de referência, bem como componentes de áudio e de animação da vida citadina.

O projeto decorreu desde finais de 2008 até 2013.

Dados os objetivos estabelecidos, a equipa utilizou a tecnologia Second Life®, na sua versão open source OpenSimulator (OpenSim). Esta tecnologia permite a interação dos investigadores e utilizadores num espaço imersivo comum, de fácil construção e em tempo real. Não existiu separação entre o processo de modelação e a sua visualização. Estas características favorecem a articulação entre os investigadores durante a verificação das hipóteses históricas e a permanente actualização do modelo a um baixo custo. Potenciam ainda as vertentes didáctica e lúdica, ao permitirem a um vasto público, simultaneamente especializado e alargado, a imersão numa realidade urbana desaparecida, num contexto de interação social com os outros utilizadores.

A ausência de um financiamento consistente e adequado permitiu apenas a recriação dos exteriores do Paço da Ribeira, Rua da Capela, Torre do Relógio, Praça da Patriarcal, Real Ópera do Tejo e Pátio das Arcas. Tentou-se, ainda, uma primeira aproximação aos interiores da Ópera do Tejo.

A escassez de fontes primárias sobre esta temática realçou o desafio que representa construir um modelo visual baseado em diferentes níveis de evidência documental. A pesquisa histórica exercita sempre a imaginação na interpretação dos dados disponíveis. A abordagem metodológica que presidiu a esta hipótese de trabalho encontra-se disponível no Museu Virtual do modelo e nas várias publicações da equipa sobre o projeto.

Estes modelos são um trabalho em progresso, requerendo uma constante atualização científica e tecnológica. Constituem-se, assim, como laboratórios de pesquisa excepcionais.

Este projecto permitiu testar, numa representação tridimensional, interactiva e imersiva, um longo percurso de investigação em história da cidade. Foi, ainda, fulcral para o extenso trabalho desenvolvido pela equipa sobre o impacto das tecnologias digitais na pesquisa histórica.

A sua disponibilização online promove o debate científico e a partilha de fontes documentais sobre a cidade de Lisboa e a história urbana, em contexto internacional.

5. Equipa

A equipa reúne investigadores na área da História da Arte, com especializações em história da cidade, do urbanismo, da arquitectura e da paisagem; especialistas na criação de realidades virtuais e especialistas na aplicação dos recursos da informática à investigação e divulgação da História.

Alexandra Gago da Câmara – Historiadora de Arte (Universidade Aberta/CHAIA – Universidade de Évora).

Helena Murteira – Historiadora de Arte (CHAIA – Universidade de Évora).

Paulo Simões Rodrigues – Historiador de Arte (CHAIA – Universidade de Évora).

Luís Miguel Richheimer Marta de Sequeira – Beta Technologies

Silvana Moreira – Beta Technologies

Consultores:

António Filipe Pimentel – Historiador de Arte (Universidade de Coimbra).

Aurora Carapinha – Arquiteta Paisagista (CHAIA – Universidade de Évora).

Bruno Martinho – Historiador de Arte (CHAM – Centro de Humanidades, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa).

Drew Etienne Baker – King’s Visualisation Lab/King’s College London, UK

Joaquim Ramos de Carvalho – Historiador (Universidade de Coimbra), Portugal

Pedro Miguel Gomes Januário – Arquiteto (Faculdade de Arquitetura, Universidade de Lisboa).