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Mês: Maio 2009
Cidade, Quotidiano e Espectáculo. Lugares de representação teatral na Lisboa dos Séculos XVII e XVIII | City, Daily Life and Spectacle. Theatre performance sites in 17th and 18th century Lisbon
(text in Portuguese only)
PROPÓSITOS
Quando pretendemos estudar a abordar a prática da História do Teatro em Portugal, sabemos que poucos séculos existiram como os séculos XVII e XVIII onde proliferaram tantos elementos documentais relativos ao espectáculo e simultaneamente tão eloquentes quanto à noção globalizante de festa que o espectáculo barroco assumiu um pouco por toda a Europa e, naturalmente também em Portugal.
O propósito deste texto centra-se deste modo, numa abordagem cronológica sobre o estudo do lugar teatral, procurando recensear a tipologia dos diferentes espaços de representação públicos em Lisboa, enquanto corte, pois se à Arquitectura compete a organização do espaço como realidade objectiva ao serviço de determinada função, e sempre como criação histórica, estudar a dramaturgia de uma época implica estudar a forma ou formas que o espaço teatral apresentou.
Encontramo-nos assim na confluência de diferentes áreas de trabalho: o enquadramento da história urbana (a cidade), a arquitectura teatral ou seja, o edifício protagonista de determinada paisagem urbana e, por fim a história do espectáculo, lugar onde se desenrola a acção dramática, englobando uma arquitectura de palco, e todo o sentido de leitura do espaço cénico-teatral.
Procurámos circunscrever-nos às principais características dos teatros de raiz profana durante este período e, não tanto integrá-los e estudá-los enquanto espaços-recepcção dos hábitos culturais que propuseram, ou seja, a questão dos destinatários e receptores dos espectáculos – referimo-nos particularmente ao público – assunto que certamente nos levaria noutro sentido. Foi igualmente nossa opção não referir neste contexto os teatros régios.
O processo de reconstrução e “reabilitação” dos diferentes espaços de representação teatral em Lisboa ao longo dos séculos XVII e XVIII transporta-nos de imediato à percepção da sua inexistência física assim como da escassez de fontes para o estudo referente à iconografia teatral deste período, estando deste modo, a pisar territórios de obras desaparecidas e, assim a trabalhar apenas com fragmentos para tentar recuperar um todo, não descurando evidentemente do privilégio de algumas fontes escritas e documentais que é preciso forçosamente cruzar.
Nesta sucinta abordagem cronológica sobre os espaços cénicos e os lugares de representação na Lisboa Barroca, procurámos privilegiar vários momentos, numa leitura cujo sentido foi propositadamente decrescente:
– Primeiramente, a referência à vivência do espaço e do lugar teatral e à sua contextualização na cidade – a malha urbanística da Lisboa Barroca, que tem obviamente uma importância crucial na escolha da implantação e fixação destes lugares de representação.
– Segundo, o destaque para importância dos espaços que antecederam as estruturas de pedra fixas, individualizando os célebres Pateos de Comédias4 como variantes para-arquitectónicas.
– A construção do efémero Teatro Real da Ópera do Tejo ligado ao despontar da chegada da ópera, onde de forma muito sucinta procurámos trazer novos elementos para a reconstituição da memória deste espaço. E, por ultimo, contextualizando a teatralidade do Barroco uma brevíssima análise do discurso cénico.